Profissão: professores.
Arsélio Martins

Nesta semana tomei conhecimento da morte de várias pessoas importantes (também para mim). De algumas tomei conhecimento pelos jornais diários nacionais, de outras por revistas especializadas e uma por telefonema amigo.

Aproveito esta coluna para mencionar duas pessoas ligadas à Matemática e ao seu ensino: Raul Carvalho e Paulo Abrantes.
Raul Carvalho, professor de Matemática, foi dirigente da Escola Superior de Educação de Setúbal antes de se reformar e partir para Moçambique.
Paulo Abrantes é conhecido da opinião pública (de Aveiro, também) por ter sido Director do Departamento da Educação Básica durante o governo de Guterres. Era professor do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Porque falar destes professores em Aveiro? Porque são dois dos fundadores de uma importante associação profissional de professores — a Associação de Professores de Matemática — dois impulsionadores e dinamizadores dos maiores encontros nacionais de profissionais do ensino. Fazem parte de uma geração que discutiu a profissão de professor e fez integrar na sua razão profissional, para além da matéria de que é feita a matemática, o mandato social dos professores na discussão e decisão política sobre o ensino da matemática para todos como tudo o que é cultura. Os professores passaram a falar a outras vozes, discutindo as suas práticas e nelas integrando, para além da transmissão da ciência, todas as ferramentas que a profissão exige.

Não sabemos ainda qual o impacto que o futuro mostrará das mudanças que estes dois professores defenderam tão arduamente. Só sabemos como estaríamos diminuídos se as não tivessemos tentado e nos mantivessemos agarrados à certeza de que o ensino da matemática para todos se poderia fazer com os métodos do ensino para alguns poucos ou agarrados à certeza bacoca de que o ensino da matemática (ou das outras ciências) só lucraria em não se adaptar às mudanças científicas e tecnológicas que mudaram a face visível da sociedade e tanto tardam dentro da escola portuguesa. Aconteça o que acontecer no futuro, ficaremos sempre a dever a professores como o Raul Carvalho e o Paulo Abrantes uma outra luz a incidir sobre o ensino da Matemática que nos dá escolha.

O ensino da Matemática não é uma ciência exacta e não admite qualquer limitação à experimentação. Sabemos hoje que, para além do conhecimento da ciência, é preciso aceitar uma caixa de ferramentas em expansão e ter a capacidade de escolher a ferramenta apropriada. A possibilidade de escolher é uma condição da liberdade. O Raul e o Paulo sabiam disso.


[o aveiro; 17/07/2003]

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